Olá pessoal, com este projeto Renascendo do Luto, tenho tido muito contato com pessoas enlutadas, e ultimamente venho refletindo bastante sobre um sentimento que observei estar presente em quase todas estas pessoas, e inclusive em mim quando passei pelos desertos das minhas perdas.
É o angustiante sentimento do “E se…”
…E se…eu soubesse que ele iria partir, eu teria feito tudo tão diferente…
…E se… ele não tivesse ido…
…E se…eu não tivesse deixado ela sair de casa aquele dia…
…E se…ele tivesse ido por outro caminho…
…E se…ele tivesse saído um minuto antes ou 1 minuto depois…
…E se…eu tivesse feito isso ou aquilo…
…E se…ele estivesse em outro hospital, com outros médicos…
…E se…eu tivesse percebido…
…E se…eu tivesse tido tempo de me despedir…
…E se…eu soubesse que aquela seria a última vez..
…E se…(…) e se…(…)
Ficamos procurando hipóteses, procurando respostas, soluções imaginárias, procurando entender, talvez tentando modificar inconscientemente a situação, para evitar entrar em contato com a triste realidade da perda, e com nossa sensação de impotência diante da morte.
Às vezes, nos culpamos por não ter feito isso ou aquilo, por não ter falado isso ou aquilo, ou simplesmente por ter feito do jeito que fizemos, por não ter percebido algo que não percebemos. Uma culpa que nos persegue, nos fazendo esquecer que não temos o poder de prever o futuro, e não temos controle sobre nossa própria finitude, muito menos sobre a finitude daqueles a quem amamos.
Se soubéssemos qual caminho seria o melhor para nós, qual daria mais certo, com certeza seguiríamos por ele. Se diante de uma encruzilhada, soubéssemos que o caminho da direita ou da esquerda nos traria sofrimento, com certeza escolheríamos outro.
A questão é que não sabemos. Por vezes, temos a sensação de estar a todo tempo tentando nos equilibrar em cima de uma corda, com os olhos vendados. Inseguros. Incertos. Diante da linha tênue entre o que achamos que temos, que de repente se tornou aquilo que perdemos.
Às vezes ficamos tão presos tentando refazer o passado, reaver uma situação, ter feito diferente, pensando em como teria sido o futuro se tivéssemos mudado algo. E quando menos percebemos, estamos presos em lugares que não estamos mais. E lugares que nunca estivemos. Eles se chamam passado, e futuro.
Eu proponho que neste momento , ao ler este texto, você olhe no relógio, ou no seu celular, ou no seu computador, no pulso, na parede, e preste atenção no horário e na data __/__/__.
Olhou?
Que horas são? Que dia é hoje?
Pois bem, é este dia e esta hora a única coisa que você tem nas mãos. É tudo o que temos, e ainda assim, é tudo tão incerto. Ainda assim, pensamos que temos, e de repente nos damos conta que nada nos pertence de fato.
Se fosse para ficar algo em meus textos sobre o Luto como a mensagem principal, eu gostaria que fosse para que tentássemos nos desfazer da ideia de que o amanhã é tão certo.
Que “daqui a pouco” eu ligo para ele.
Que “quando ele voltar”, eu falo.
“Quando ele vier me pedir perdão, eu perdoo.”
“Na semana o que vem, eu vou visitá-lo”.
Esse dia pode nunca chegar. E infelizmente, quantas pessoas se dão conta disso quando não dá mais tempo.
Como diria Mário Quintana, em seu poema O Tempo:
“A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa.
Quando se vê, já são seis horas!
Quando de vê, já é sexta-feira!
Quando se vê, já é natal…
Quando se vê, já terminou o ano…
Quando se vê, perdemos o amor da nossa vida.
Quando se vê, passaram 50 anos!
Agora é tarde demais para ser reprovado…
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio.
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas…
Seguraria o amor que está à minha frente e diria que eu o amo…
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo.
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz.
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.”
Até a próxima semana! (que também é tão incerta!)
Com amor,
Grace Baticioto Benato
Psicóloga especialista em Luto – CRP 06/115185
e-mail: contato@renascendodoluto.com.br / gracebbenato@gmail.com
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