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Se você está lendo este artigo, provavelmente faça parte dos milhões de brasileiros que possuem um animal de estimação em casa. Ou, então, deve lembrar facilmente de algum “amigão” que participou da sua infância e ainda hoje consta nas melhores lembranças da família.

A presença cada vez maior dos pets em nosso cotidiano transformou a configuração de família e das relações, ao ponto que atualmente existem mais animais de estimação do que crianças nos lares brasileiros e esta mudança não é mero acaso. A presença dos animais de estimação proporciona uma relação de cuidado benéfica não só para seu tutor, que muitas vezes o considera como um filho, mas também para todos os integrantes da família. A essa interação entre tutor e seu pet, que tem a capacidade de unir e estabelecer uma ligação afetiva entre ambos, damos o nome de vínculo.

O vínculo entre homens e animais de estimação tem a capacidade de trazer diversos benefícios para a saúde física e mental dos indivíduos e é de grande importância nas diversas fases do ciclo vital.

Ter um animal de estimação é ter uma fonte inestimável de afeto e desperta no ser humano a capacidade de cuidar, de sentir-se amado e necessário, recompensado e aceito incondicionalmente, melhorando a auto-estima, aliviando o estresse e a tensão, trazendo uma sensação de bem-estar e dessa forma proporciona um reasseguramento emocional. Representam companhia para quem vive sozinho, ajudam na motivação de pacientes em tratamentos de saúde, além de atuarem como co-terapeutas em diversos programas de reabilitação. Ajudam a diminuir os níveis de ansiedade, depressão, estresse e sedentarismo de seus tutores e dessa forma atuam como coadjuvantes na promoção da saúde emocional e física da população.

Algumas pesquisas apontam que pessoas são categóricas ao afirmar que consideram seu animal de estimação como filhos, relatam conversar com eles e têm a certeza que os mesmos entendem o que estão dizendo, bem como compreendem seu estado emocional. Muitos animais vivem dentro de casa, dormem na cama de seus donos, partilham até mesmo da comida, recebem nomes simbólicos e têm comemoração nas datas de aniversário. Sim, eles são considerados parte da família!

Isso sem contar naquela sensação que você provavelmente já deve ter sentido ao chegar em casa cansado após um dia estressante e ser recebido com alegria e festa por seu bichinho, poder relaxar, brincar com ele, desfrutar de sua companhia e então reabastecer novamente parte do descanso, do afeto e do carinho diários que precisamos para renovar nossa energia.

Quem dera se pudéssemos eternizar esses momentos e os seres que amamos, para que nunca tenhamos que lidar com a possibilidade da perda e do sofrimento que isso acarretaria. Porém, não é dessa forma que acontece. Sabemos que a expectativa de vida dos animais é muito menor em comparação à expectativa de vida de seu dono, o que nos leva a considerar a inegável realidade de que em algum momento, o tutor terá que conviver com a morte ou o desaparecimento do seu companheiro.

Juntamente com o animal que se vai, muitos dos benefícios que o tutor obtinha diretamente desta relação também cessam, como por exemplo, a companhia e o cuidado, bem como a sensação de sentir-se pertencente e necessário. No lugar deste que partiu, geralmente fica um grande vazio e então o processo de luto se instaura.

O processo de luto é uma reação natural à perda de algo ou alguém que amamos, é necessário para que possamos processar tudo o que aconteceu e ressignificar essa nova condição diante da perda. Nesse período, podemos esperar que o enlutado demonstre reações físicas e psicológicas características, como alterações na concentração, no sono e no apetite, sentimentos de tristeza, ansiedade, solidão, raiva, culpa, desamparo, saudade, esperar que esteja mais fragilizado e vulnerável em virtude do rompimento deste vínculo e que naturalmente precise de um suporte maior da sua rede de familiares e amigos.

Porém, considerando que em nossa sociedade a convivência com a possibilidade da morte por si só é um tabu, no qual a maioria das pessoas prefere evitar, pensemos então no quão difícil e escasso é o suporte social ao enlutado que acabou de perder seu animal de estimação. A rede de apoio de um modo geral não reconhece este tipo de perda, por considerar o objeto do afeto em si, e não a qualidade e a intensidade do vínculo, afinal não foi uma “pessoa” que morreu, e sim um “animal”, então teoricamente não é esperado tanta manifestação e o sofrimento por parte do enlutado é negligenciado.

Frases que as pessoas dizem como: “Ah, era só um cachorro…”ou então “Você está assim por causa de um gato? ”, ou mesmo “Não é para tanto…” invalidam a expressão do luto e causam mais dor ao enlutado.

Da mesma forma, o tutor em meio a este cenário, vive sua dor muitas vezes em completo isolamento, temendo ser inconveniente ao expressar ou sentir seu pesar por muito tempo.

Quando este processo não é reconhecido pelos familiares, sociedade ou mesmo pelo próprio indivíduo, o indivíduo sofre com a condição de enlutamento solitário e silencioso, o que pode favorecer ao surgimento de distúrbios psicológicos e físicos, como o aparecimento de doenças.

Para evitar que este luto pela perda do animal de estimação caminhe para o adoecimento, é necessário que a perda seja validada pela sociedade, e que antes disso, a relação tutor-animal seja reconhecida, afinal, como podemos ver, trata-se de um vínculo muito forte, não apenas com um “animal de estimação”, mas com tudo o que ele representa: um grande amigo, um companheiro, um filho, um integrante da família muito especial que merece o devido respeito.

Afinal, não podemos eternizá-los, mas podemos eternizar o vínculo, o significado, o amor e a pureza que percebemos desta relação, a guardar em nós este ciclo de amor que, assim como tudo na vida, tem início, meio e fim.  Que passa por nós, nos transforma em pessoas mais completas; por que não dizer em pessoas melhores e inegavelmente mais fortes, pois agora carregamos em nós o melhor que recebemos e damos deles!

Este artigo é resultado do nosso trabalho de conclusão de curso da pós graduação em Teoria, Pesquisa e Intervenção em Luto do Quatro Estações Instituto de Psicologia.

Nós somos: Grace Baticioto Benato, psicóloga, João Luiz de Souza Hopf, médico, e Meire Bárbara dos Santos Calheira, psicóloga e fomos orientados pela doutora Valéria Tinoco, psicóloga especialista em luto e co-fundadora do Quatro Estações.

Ele tem por objetivo conscientizar as pessoas a respeito da importância do vínculo afetivo entre homens e animais de estimação, e do sofrimento psicológico do tutor diante da perda, que ainda é negligenciado pela sociedade ocasionando como um fator de risco à saúde do enlutado.

Pedimos a gentileza de nos ajudar nesta conscientização, compartilhando este artigo com mais pessoas que possam se beneficiar deste conteúdo.

Muito obrigado! 

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